Memórias de Natal...
Tenho memória de alguns Natais. Natais diferentes. O primeiro, aquele de que guardo uma impressão mais perene e me tem acompanhado ao longo da vida, foi o da minha infância. Pela manhã, mal acordávamos, íamos, eu e o meu irmão, à chaminé da casa onde morávamos para ver o que o menino Jesus tinha depositado nos nossos sapatitos. O menino Jesus sim, e não o Pai Natal.
Que ânsia! Levantávamo-nos da cama rápidos como um ápice e, numa correria louca, dirigíamo-nos para a cozinha. Normalmente o menino Jesus era bastante generoso connosco e lá tínhamos à nossa espera chocolates vários, em invólucros de várias cores, que tinham o condão de aguçar ainda mais a nossa gula. Depois, refastelados no jardim da casa, ficávamos a atafulharmo-nos com a generosidade «divina».
O último Natal de que guardo memória é o dos nossos dias. Consumista, globalizado, «made in USA». Os valores tradicionais da família continuam presentes mas são totalmente abafados pela febre compradora. E é ver toda a gente, frenética, a acotovelar-se nos centros comerciais, as verdadeiras catedrais dos tempos modernos. A afectividade afere-se pelas «prendas» com que brindamos as pessoas que nos são próximas. Dar prendas é sinal de que nos lembramos dos outros, de que nos preocupamos com eles. Tal gesto poderá até nem ser de todo condenável se não limitarmos este nosso altruísmo apenas e unicamente a esta quadra festiva.