Sexta-feira, 3 de Março de 2006
Mulher de Aldeia

Ia de tamancos p'ra fonte
A mulher da minha terra
O tempo lhe apagou o nome
Mas não, nunca a graça dela
Vi-a trazendo duas talhas
Ligeira p'la rua abaixo
Tantas, tantas madrugadas
De quanta lida e cansaço
De manhã de madrugada
De avental, passo ligeiro
Que bonita, que engraçada
Que ternura no seu geito
Foi um dia ainda jovem
Que à fonte se veio encontrar
Com aquele que foi seu homem
Com quem iria casar
Junto à fonte o seu primeiro
Seu primeiro beijo deu
Transbordava o pote cheio
-Como de tudo se esqueceu
Naquele momento da fonte
Naquele momento de vida
Embarcou e foi p'ra longe
Seu coração de batida
Depois entra e sai dia
Trouxe um dia um filho seu
Se tornou mãe a rapariga
Que na fonte a talha encheu
No lamento do encher de água
De qualquer bilha de barro
Juntou com lágrimas sua mágoa
Amarga mágoa --seu fado
Passaram-se anos atrás de anos
Tornou-se triste, cansou-se
A canção da água, seus prantos
Suavizavam, calou-se
Atado o seu lenço à nuca
Passava como fidalga
Na volta molhava a rua
Ela mais sua velha talha
Secou-se já essa fonte
Mas não a memória dela
A sua alma foi p'ra longe
Mas ficou sim a história dela.


Silvério Gabriel de Melo. Vogelbach, Alemanha
publicado por ciloca às 19:00
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Quarta-feira, 1 de Março de 2006
CARTA A UM POETA

Meu caro poeta,

Por um lado foi bom que me tivesses pedido resposta urgente, senão eu jamais escreveria sobre o assunto desta, pois não possuo o dom discursivo e expositivo, vindo daí a dificuldade que sempre tive de escrever em prosa.
A prosa não tem margens, nunca se sabe quando, como e onde parar. O poema, não; descreve uma parábola tracada pelo próprio impulso (ritmo); é que nem um grito.
Todo poema é, para mim, uma interjeição ampliada; algo de instintivo, carregado de emoção. Com isso não quero dizer que o poema seja uma descarga emotiva, como o fariam os românticos. Deve, sim, trazer uma carga emocional, uma espécie de radioatividade, cuja duração só o tempo dirá. Por isso há versos de Camões que nos abalam tanto até hoje .....

(Retirei este excerto de Prosasonline)


publicado por ciloca às 19:30
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